Se não dá para ser ídolo nacional, há quem se contente em distribuir
autógrafos e fotos nas fronteiras regionais. Campeão brasileiro da Série
D pelo São Raimundo em 2009, o goleiro Labilá é apontado como
celebridade na pequena Santarém, no interior do Pará. Com 150 jogos
recém-completados pelo Pantera, ele se diz plenamente satisfeito com sua
realidade.
Dono de casa própria, carro, moto e uma loja, o arqueiro pode ser
considerado um popstar para os padrões da quarta divisão, e se comporta
como tal.
- Sempre busquei esse reconhecimento como jogador. Não sou ídolo só em
minha cidade. Sou ídolo em Manaus, onde joguei três anos, dou
autógrafos, tiro fotos, e tudo que envolve minha carreira sai na
imprensa. Já no Pará, sou um ídolo estadual. Em todos os lugares que
vou, todo mundo me assedia. Sou um cara muito elogiado, até mesmo por
ser pequeno e fazer grandes defesas. Algumas vezes, até onde não me
conhecem, param e perguntam: “Cadê o Labilá?”.
Com 1,79m, Labilá contrariou prognósticos decepcionantes quando jovem
para se tornar um ícone na posição no estado do Pará. Perguntado se uma
proposta de equipes em divisões acima o balançaria, a resposta veio de
primeira.
- Aqui é minha cidade, conheço todo mundo, a torcida gosta do meu
trabalho, me respeita bastante, minha opinião é ouvida no grupo, e isso é
o que é importante. Vivo tranquilo com minha família. Minha ideia é
viver a carreira por aqui mesmo, fazer história com o São Raimundo.
Quem também quer fazer história no São Raimundo, mas por outros
motivos, é o atacante Belo. Aos 30 anos, ele vive sua primeira
experiência em uma competição nacional e deixou a família em uma vila
distante, no município de Óbidos, interior do Pará, para buscar uma vida
melhor. Uma transferência salvadora é vista como utopia, e todo esforço
é feito para aproveitar ao máximo o pouco tempo que ainda terá como
jogador. Morando no alojamento do clube, ele sequer toca nos R$ 1 mil
mensais que recebe e repassa para a esposa, filha e a mãe, que mora
sozinha há 16 anos em um quarto alugado.
- Tenho alimento e moro no clube. Não posso ficar com o dinheiro. Deposito tudo para minha mãe e minha família.
Essa realidade simples de “ajudar com o que der” é o que norteia muitos
dos jogadores que se aventuram na Série D e têm idade avançada para o
mundo da bola. Para eles, carro, acessórios e eletrônicos são supérfluos
diante da possibilidade de melhorar de vida.
- Luxo não é para todos. Sou do interior, cheguei ao São Raimundo, e
apenas busco uma forma de melhorar minha vida. Luxo, carro, essas
coisas, não fazem parte da nossa realidade. O importante é usar o
dinheiro para ajudar a família – garante o volante Marcelo Pitbull, de
28 anos, também do São Raimundo.
Estrela em um mundo recheado de caras desconhecidas, o meia Vélber,
ex-São Paulo e Paysandu, resume em poucas palavras o sentimento de quem
já passou por todas as divisões até defender o time paraense na Série D.
- A realidade aqui é muito diferente. Nunca na minha vida tinha
encarado viagens de navio, passar 22 horas, mas... É isso o que tem. O
comum aqui é o cara ser guerreiro. O que não podemos é deixar de jogar.
Afinal, o show não pode parar. Com boné para o lado, cordão no pescoço, ou simplesmente com o pés no chão.
fonte:globoesporte.com
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